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BETAS

O peixe Betta, também conhecido como "peixe de briga", pertence à subordem anabantoidei (Integrated Taxonomic Information System – ITIS, 2006). É originário da Ásia (Tailândia, Indonésia, Vietnã, China e outros), sendo seu habitat natural as regiões alagadiças com águas estagnadas e pobres em oxigênio, como brejos, pântanos e campos de plantação de arroz.
A origem do seu nome vem da associação com uma tribo guerreira, os Ikan Bettah, a qual dominava as regiões do antigo Sião, onde os guerreiros eram chamados de Bettahs. A relação com os antigos guerreiros é evidente, uma vez que o Betta é um peixe bastante territorialista, tornando-se violento quando em contato com outros machos da mesma espécie.
Em 1874, foram introduzidos na Europa (França) e, em 1910, nos Estados Unidos (Goldstein, 2004; Aquaworld, 2006) onde o ictiologista C.Tate Regan o denominou de Betta splendens. Os peixes importados tanto na Europa quanto na América do Norte eram de espécies selvagens, os quais apresentavam uma coloração discreta e menor tamanho. As variações de cores e tamanhos existentes nos dias atuais foram conseguidas a partir do trabalho de aquaristas e produtores.
As linhagens comerciais atualmente encontradas são o resultado de uma longa seleção feita por criadores visando a dois aspectos distintos: a produção de peixes com características fenotípicas desejáveis, como belas nadadeiras e corpo colorido com reflexos metálicos e iridescentes, e a criação de peixes mais agressivos para serem utilizados em torneios de luta (mais comuns no Sudeste Asiático), sendo que esses últimos normalmente apresentam nadadeiras curtas e são de maior tamanho.
Atualmente, no Brasil, além do aquarismo convencional, essa espécie tem sido utilizada como controle biológico de mosquitos, como os das espécies Aedes aegypti, no Ceará, e o da Culex quinquefasciatus em Pernambuco (Pamplona et al., 2004).
Anatomia
A anatomia do Betta (Fig. 1 e 2) é semelhante à de outros peixes apresentando, porém, algumas particularidades, como o tamanho de suas nadadeiras e a presença do labirinto, órgão responsável pela respiração acessória.
A partir dos dois meses de idade, o dimorfismo sexual se torna bem evidente, pois as nadadeiras dos machos se desenvolvem mais, apresentando-se, na espécie adulta bem maiores que as das fêmeas. Em algumas espécies nativas, essa distinção é feita somente a partir do comportamento do macho, o qual se apresenta bem mais agressivo que a fêmea.
Bettas são anabantídeos, ou seja, possuem um órgão acessório de respiração, logo acima das brânquias, através do qual respiram oxigênio atmosférico. Peixes com labirinto têm uma outra característica, todos os órgãos internos estão comprimidos na parte anterior do corpo, de modo que a parte posterior tem somente a espinha, músculos e parte da bexiga natatória (Peixebom, 2006).


Comportamento
Para defender seu restrito território, em geral pequenas poças de água, o Betta desenvolveu seu instinto combativo, a ponto de também ser conhecido como peixe-de-briga. Essa característica não permite a manutenção de mais de um exemplar macho no mesmo aquário, pois, nesse caso, eles travam violentas brigas que, se não houver separação, em geral levam à morte do mais fraco. Nos países de origem, os Bettas são usados em rinhas , que movimentam grandes apostas, podendo os melhores exemplares atingir um alto valor comercial.
Existem vários estudos na literatura avaliando o comportamento agressivo dos Bettas: Craft et al. (2003) compararam a agressividade desse peixe quando colocado frente a outro exemplar ou frente à sua própria imagem em espelho, afirmando que quando à frente de outro exemplar, esse fica mais violento ainda. Doutrelant e McGregor (2000) observaram que as fêmeas, quando colocadas à frente de uma batalha entre dois machos, tendem a escolher para reprodução o macho que ganhou a disputa. Vários outros trabalhos evidenciam o comportamento territorialista e agressivo do Betta splendens como os de Bronstein (1980) e Bando (1991).

Alimentação
O Betta é um peixe carnívoro; aceita desde alimentos vivos, como artêmias, dáfnias, larvas de mosquito, enquitréia e larvas de drosófila, até alimentos in natura ou processados, como carne ou coração raspado, camarão, patês e outros alimentos.
De acordo com sua morfologia (possuem boca voltada para cima), percebe-se que esses peixes tendem a se alimentar com maior facilidade na superfície da água, sendo que os alimentos que flutuam têm uma boa aceitabilidade por eles (Giampietro, 2006).
Nos primeiros dias de vida, os cuidados com a alimentação devem ser redobrados; essa deve ser feita várias vezes ao dia e com o cardápio variado. Infusórios, artêmias recém eclodidas, microvermes e gema de ovo são os principais alimentos nessa fase.
Quando mais desenvolvidos, esses peixes começam a comer ração comercial, porém não deve ser a única a ser fornecida. Os alimentos citados anteriormente, como os in natura e os alimentos vivos, estimulam o apetite dos peixes, fazendo com que eles cresçam rapidamente e bem saudáveis.
Em ambas as fases da criação, essa alimentação variada e de boa qualidade é de fundamental importância para o bom desenvolvimento dos Bettas, porém deve-se ter o cuidado com a superalimentação.
Qualquer sobra de comida deve ser evitada, visto que essa sempre apodrece na água, perde a sua qualidade, favorecendo, assim, uma queda de imunidade dos peixes e deixando-os susceptíveis à infecção por patógenos oportunistas.

Ambiente
O habitat natural do Betta, como os pântanos e campos de arroz, tem como características principais uma pequena coluna de água e um baixo teor de oxigênio dissolvido, tornando esses peixes adaptados a condições que seriam extremamente indesejáveis para outras espécies. Portanto, na sua criação em cativeiro, não é necessário nenhuma forma de suplementação de oxigênio, e a coluna de água não precisa ultrapassar 20 cm de altura. Segundo Liem (1987), citado por Aguire (1998), o peixe Betta tolera muito bem condições anóxicas em seu ambiente.
É extremamente resistente a mudanças bruscas na temperatura da água, podendo variar de 23ºC a 34ºC (Sugai, 1993), sendo a temperatura ideal em torno de 27,5 ºC. O pH ideal está entre 6,8 e 7,2 (Giampietro, 2006), porém resiste muito bem a choques de pH, podendo inclusive se reproduzir em escalas diferentes da citada (Sugai, 1993). O Betta é originário de água de baixa dureza, sendo os valores de 10 a 12 dH considerados ideaispara a reprodução (El acuarista, 2006). Segundo Sugai (1993), a dureza não afeta o comportamento do Betta, podendo ele reproduzir com sucesso em níveis variados.

Reprodução
Uma característica interessante dessa espécie é a sua precocidade sexual. Exemplares de três meses, quando bem alimentados estão aptos à reprodução. James e Sampath (2004) avaliaram a idade necessária para a maturidade sexual em juvenis de Betta a partir de 30 dias sendo administrado alimento uma, duas ou três vezes ao dia. Após 77 dias, ou seja, três meses e meio de vida, as fêmeas estavam aptas à reprodução em ambos os tratamentos, apresentando melhor desempenho reprodutivo aquelas que foram as alimentadas duas vezes ao dia.

O aquário de reprodução
O tamanho do aquário geralmente varia de 10 a 30 litros. Para facilitar o manejo e a manutenção, os menores são mais recomendados. O fundo e a parede de trás pintados de preto tem o objetivo de evitar o estresse durante a reprodução e facilitar a coleta dos ovos quando eles caem no fundo. Os equipamentos necessários são: material para iluminação, termômetro, aquecedor com um termostato, uma tampa de vidro para evitar a saída do ar quente, importante à sobrevivência dos alevinos, um tufo de planta, que pode ser de samambaia aquática ou cabomba, para que a fêmea possa se esconder dos ataques, muitas vezes, violentos do macho.

A escolha do casal
Para seguir uma determinada linhagem, deve-se procurar um casal parecido (nas características de cores, caudas, formato do corpo, agressividade, etc), mas se a intenção é ousar ou reproduzir somente de forma doméstica, pode-se escolher aleatoriamente.
É importante que o macho seja maior que a fêmea para facilitar o "abraço nupcial". Ambos devem ser ativos, agressivos, apresentarem cores vivas e responderem prontamente quando lhes são oferecidos alimentos.
Quando próximo do acasalamento, a fêmea deverá ter a cavidade celomática levemente abaulada, apresentando listras bem nítidas na vertical com aparecimento de um pequeno ponto branco semelhante a um ovo no orifício anal, referente ao aparelho ovopositor.
Escolhido o casal, é necessário reforçar a alimentação com uma dieta rica em proteínas, principalmente para o macho que, durante o processo de reprodução e manutenção dos alevinos, não irá se alimentar e poderá emagrecer bastante. Essa alimentação deve ser dada duas semanas antes até uma ou duas semanas após a reprodução.
A variação da alimentação nessa fase é muito importante. A utilização de alimentos vivos, além de serem considerados de ótima qualidade, estimula bastante o apetite dos animais. A artêmia salina é o alimento mais recomendado por possuir em sua constituição um nível acima de 60% de proteína bruta. Outros alimentos vivos, como a enquitréia, os blood-worms, as dáfnias e o tenébrio, constituem também uma ótima fonte de proteína.